HOMOFOBIA SERIA MEDO DE SAIR DO ARMÁRIO?
Evidentemente não existe comprovação científica. No entanto, a sabedoria popular consagra a tese de que aqueles que exageram, são radicais nas manifestações contra os homossexuais, seriam gays enrustidos. Com medo de “sair do armário”, procuram criar uma cortina de fumaça com as suas manifestações exacerbadas e ataques aos homossexuais.
Sabe-se, inclusive, de caso de gay assumido que “jura de pés juntos” que conhece – e dá os nomes – de conhecidos machões que, na surdina, “soltam a franga”, acobertando-se no silência cúmplice de parceiros.
Dois casos recentes fazem pensar até onde vai a versão tão difundida na cultura popular.
Ficou notório o caso do deputado-pastor (seria melhor pastor-deputado, uma vez que ele é mais isto do que aquilo) Marco Feliciano, que teima e insiste em se manter na presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, apesar de todos os protestos e manifestações em contrário. A repulsa se apoia em seguidos pronunciamentos do “indigitado” nos quais tem manifestado claramente a sua homofobia e, pior ainda, o racismo, dizendo até que a existência de negros na África seria um castigo de Deus.
A seu favor, aliás, somente têm se manifestado as claques organizadas pelos evangélicos ou os grupos pagos para aplaudir o pastor-deputado.
Agora, mais uma faceta do pastor-deputado vai acirrar os ânimos e, se for verdadeira a tese sobre o enrustimento, seria mais uma evidência.
O pastor colocou em pauta para ser votado na próxima semana na Comissão de Direitos Humanos o projeto de decreto legislativo que pretende institucionalizar o que vulgarmente ficou conhecido como “cura-gay”.
O projeto desautoriza, expressamente, a manifestação formal da Ordem dos Psicólogos que, com base em dados científicos, proíbe que os seus filiados adotem os “tratamentos” que, em tempos idos, tinham por objetivo exatamente “curar” os homossexuais.
O outro caso emblemático envolve a diocese católica de Bauru, no interior do Estado de São Paulo.
Na semana passada o Bispo daquela diocese determinou a excomunhão do padre Roberto Francisco Daniel.
O pecado do padre Beto - como é conhecido popularmente na cidade o ex-padre - que lhe valeu o afastamento compulsório da Igreja Católica, com a perda de todos os direitos e deveres de sua condição de sacerdote, foi unicamente haver se manifestado contra a demonização da homossexualidade. Pregava o padre que os seus fieis – seguindo aliás os ensinamentos que a Igreja diz terem nascido de manifestações de Cristo – admitissem a convivência com os homossexuais, não os hostilizando. Em linguagem clara, ensinava que os “gays” deveriam ser tratados como irmãos, ainda seguindo os ensinamentos de Jesus Cristo.
Divulgados os comentários do Padre Beto, o bispo intimou-o para, em curtíssimo prazo, manifestar-se publicamente se retratando.
Convicto de que não havia cometido quaisquer faltas, o Padre Beto preferiu manter a sua convicção cristã. Mas, quando pretendia entregar no bispado o seu pedido de afastamento de sua condição de sacerdote, foi surpreendido com a pena mais grave estabelecida no Código de Direito Canônico, a excomunhão.
Os seus fieis – e são milhares na região onde atuava e na paróquia que dirigia- superlotaram a igreja no ato de despedida do Padre Roberto Daniel. Manifestaram o seu apoio, protestaram contra a decisão do Bispo. Mais ainda, neste próximo final de semana, prometem os admiradores do Padre Beto realizar uma manifestação pública, uma passeata pelas ruas da cidade. Mais ainda: a grande maioria dos fieis da paróquia que era dirigida pelo Padre Beto vai declarar publicamente que está se afastado da Igreja Católica.
Diante do ato de excomunhão decretado pelo Bispo de Bauru, vale lembrar os escândalos ocorridos nos mais diversos pontos do universo, envolvendo padres pedófilos.
Os casos de pedofilia foram denunciados, inicialmente, no princípio de 1999, em Boston, nos Estados Unidos, por três jornalistas do jornal “Boston Globe”, que pesquisaram e desvendaram os os milhares de crimes envolvendo padres católicos pedófilos daquela Arquidiocese. Mais ainda: afirmaram e comprovaram que o então Cardeal daquela cidade, Bernard Law, havia encoberto os escândalos, não somente transferindo os padres pedófilos para outras regiões do país, mas também fazendo acordos onerosíssimos para a Arquidiocese.
Depois da denúncia do “Boston Globe” milhares de casos de pedofilia praticada por padres católicos foram desvendados mundo afora, se refletindo, inclusive, no conclave de eleição do novo papa, tendo em vista que um arcebispo renunciou ao direito de votar, dizendo que praticou “atos inapropriados”, sofisma usado para encobrir exatamente a sua condição de pedófilo.
O resultado dos escândalos de Boston:
1. O cardeal Law foi envolvido em um processo criminal, chegou a ser ouvido mediante depoimento gravado em vídeo, para a Corte e, quando o caso se complicou e o cardeal estava ameaçado de ser processado e preso, fugiu para Roma. Lá, foi premiado com a designação pelo Papa João Paulo II para um importante cargo na Cúria Romana. Não demorou e, recentemente, logo após eleito, o Papa Francisco se recusou a receber cumprimentos do famigerado Cardeal Law, em encontro ocorrido em uma Igreja de Roma.
2. Ainda como consequência dos acordos feitos pelo Cardeal Law para abafar os casos de pedofilia que havia encoberto, a Arquidiocese de Boston quase faliu. Tanto assim que o novo Cardeal daquela cidade, logo depois de assumir, vendeu o Palácio Episcopal, belíssimo e muito luxuoso. Foi além: para pagar os débitos assumidos pela Arquidiocese falida, o novo Cardeal, o franciscano Sean O’Malley chegou a fechar igrejas, colocando à venda, no mercado imobiliário, os seus prédios.
Diante de tudo, o que se pode pensar do comportamento homofóbico do Bispo que excomungou o Padre Beto?
Padre pedófilo, o que não deixa de ser homossexualidade, pode! O que não pode é falar conforme suas convicções, seguindo os ensinamentos de Cristo.
Será que a teoria adotada na sabedoria popular quanto ao enrustimento e o medo de sair do armário é verdade? Ainda seguindo o ditado, vale dizer que “Onde há fumaça há fogo”.
O provérbio vale para os dois casos narrados,rs.
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