Com a
aceitação de denúncias contra alguns "vendilhões do templo", que
massacram massas com seus pedidos estapafúrdios de dízimos e usam do poder
temporal em benefício dos seus "negócios de fé", dominando grandes
mídias, achei interessante relembrarmos a conclusão de Judas em antológico
texto psicografado por Chico Xavier:
"Nas
margens caladas do Jordão, não longe talvez do lugar sagrado,onde o Precursor
batizou Jesus Cristo, divisei um homem sentado sobre uma pedra. De sua
expressão fisionômica irradiava-se uma simpatia cativante. - Sabe quem é este?
- murmurou alguém aos meus ouvidos. - Este é Judas. - Judas?!... - Sim. Os
espíritos apreciam, às vezes, não obstante o progresso que já alcançaram,
volver atrás, visitando os sítios onde se engrandeceram ou prevaricaram,
sentindo-se momentaneamente transportados aos tempos idos. Então mergulham o
pensamento no passado, regressando ao presente, dispostos ao heroísmo
necessário do futuro. Judas costuma vir a Terra, nos dias em que se comemora a
Paixão de Nosso Senhor, meditando nos seus atos de antanho...Aquela figura de
homem magnetizava-me. Eu não estou ainda livre da curiosidade do repórter, mas
entre as minhas maldades de pecador e a perfeição de Judas existia um abismo. O
meu atrevimento, porém, e a santa humildade do seu coração ligaram-se para que
eu o atravessasse, procurando ouvi-lo. - O senhor é, de fato, o ex-filho de
Iscariotes? - perguntei. - Sim, sou Judas - respondeu aquele homem triste,
enxugando uma lágrima nas dobras de sua longa túnica. Como o Jeremias, das
Lamentações, contemplo às vezes esta Jerusalém arruinada, meditando no juízo
dos homens transitórios... - E uma verdade tudo quanto reza o Novo Testamento
com respeito à sua personalidade na tragédia da condenação de Jesus? - Em
parte... Os escribas que redigiram os evangelhos não atenderam às
circunstâncias e as tricas políticas que acima dos meus atos predominaram na
nefanda crucificação. Pôncio Pilotos e o tetrarca da Galiléia, além dos seus
interesses individuais na questão, tinham ainda a seu cargo salvaguardar os
interesses do Estado romano, empenhado em satisfazer as aspirações religiosas
dos anciãos judeus. Sempre a mesma história. O Sanedrim desejava o reino do céu
pelejando por Jeová, a ferro e fogo; Roma queria o reino da Terra. Jesus estava
entre essas forças antagônicas com a sua pureza imaculada. Ora, eu era um dos
apaixonados pelas idéias socialistas do Mestre, porém o meu excessivo zelo pela
doutrina me fez sacrificar o seu fundador. Acima dos corações, eu via a
política, única arma com a qual poderia triunfar e Jesus não obteria nenhuma
vitória. Com as suas teorias nunca poderia conquistar as rédeas do poder, já
que, no seu manto e pobre, se sentia possuído de um santo horror à propriedade.
Planejei então uma revolta surda como se projeta hoje em dia na Terra a queda
de um chefe de Estado. O Mestre passaria a um plano secundário e eu arranjaria
colaboradores para uma obra vasta e enérgica como a que fez mais tarde
Constantino Primeiro, o Grande, depois de vencer Maxêncio às portas de Roma, o
que, aliás, apenas serviu para desvirtuar o Cristianismo. Entregando, pois, o
Mestre, a Caifás, não julguei que as coisas atingissem um fim tão lamentável e,
ralado de remorsos, presumi que o suicídio era a única maneira de me redimir
aos seus olhos. - E chegou a salvar-se pelo arrependimento? - Não. Não
consegui. O remorso é uma força preliminar para os trabalhos reparadores.
Depois da minha morte trágica, submergi-me em séculos de sofrimento expiatório
da minha falta. Sofri horrores nas perseguições infligidas em Roma aos adeptos
da doutrina de Jesus, e as minhas provas culminaram em uma fogueira
inquisitorial(JOANA D'ARC), onde, imitando o Mestre, fui traído, vendido e
usurpado. Vítima da felonia e da traição, deixei na Terra os derradeiros resquícios
do meu crime, na Europa do século XV Desde esse dia, em que me entreguei por
amor do Cristo a todos os tormentos e infâmias que me aviltavam, com resignação
e piedade pelos meus verdugos, fechei o ciclo das minhas dolorosas
reencarnações na Terra, sentindo na fronte o ósculo de perdão da minha própria
consciência... - E está hoje meditando nos dias que se foram... - pensei com
tristeza. - Sim... estou recapitulando os fatos como se passaram. E agora,
irmanado com Ele, que se acha no seu luminoso Reino das Alturas que ainda não é
deste mundo, sinto nestas estradas o sinal de seus divinos passos. Vejo-O ainda
na cruz entregando a Deus o seu destino... Sinto a clamorosa injustiça dos
companheiros que O abandonaram inteiramente e me vem uma recordação carinhosa
das poucas mulheres que O ampararam no doloroso transe... Em todas as
homenagens a Ele prestadas, eu sou sempre a figura repugnante do traidor...
Olho complacentemente os que me acusam sem refletir se podem atirar a primeira
pedra... Sobre o meu nome pesa a maldição milenária, como sobre estes sítios
cheios de miséria e de infortúnio. Pessoalmente, porém, estou saciado de
justiça, porque já fui absolvido pela minha consciência no tribunal dos
suplícios redentores.Quanto ao Divino Mestre - continuou Judas com os seus
prantos - infinita é a sua misericórdia e não só para comigo, porque, se recebi
trinta moedas, vendendo-o aos seus algozes, há muitos séculos.
Ele está
sendo criminosamente vendido no mundo a grosso e a retalho, por todos os
preços, em todos os padrões do ouro amoedado... - E verdade - concluí - e os
novos negociadores do Cristo não se enforcam depois de vendê-lo. Judas
afastou-se tomando a direção do Santo Sepulcro e eu, confundido nas sombras
invisíveis para o mundo, vi que no céu brilhavam algumas estrelas sobre as
nuvens pardacentas e tristes, enquanto o Jordão rolava na sua quietude como um
lençol de águas mortas, procurando um mar morto."
Mensagem
psicografada por Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Humberto de Campos,
contida no livro Memórias de Além Túmulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.