Hoje, quando se fala em
"candomblé", o que se tem em mente é um tipo específico de religião
formada na Bahia, denominado candomblé "Queto" ou "Ketu",
que atualmente pode ser encontrado em praticamente todo o País. Mas o termo
candomblé designa muitas variedades religiosas, como veremos adiante.
A palavra candomblé é de origem bantu, podendo derivar da aglutinação das
palavras em kimbundo : Kiandombe (negro) + Mebele (casa) = Kiandombemebelê =
Candomblé, significando então “Casa de Negros”.
Mas também pode ser o resultado da fusão deste mesmo Mebele, com o prefixo
diminutivo Ka + Ndumbe + Mebele = Kandumbele – Ou seja, casa de neófitos, casa
de principiantes, ou melhor “Casa de Iniciação”. Esta última é a hipótese mais
aceita dentre os estudiosos.Logo sendo a palavra candomblé de origem bantu,
podemos admitir a anterioridade dos cultos kongo-angolenses bantu-brasileiros,
sobre os cultos de orígem sudanesa.
O candomblé e demais religiões afro-brasileiras tradicionais formaram-se em
diferentes áreas do Brasil com diferentes ritos e nomes locais derivados de
tradições africanas diversas: candomblé na Bahia, xangô em Pernambuco e
Alagoas, tambor de mina no Maranhão e Pará, batuque no Rio Grande do Sul e
macumba no Rio de Janeiro.
A organização das religiões negras no Brasil deu-se bastante recentemente, no
curso do século XIX. Uma vez que as últimas levas de africanos trazidos para o
Novo Mundo durante o período final da escravidão (últimas décadas do século
XIX) foram fixadas sobretudo nas cidades e em ocupações urbanas, os africanos
desse período puderam viver no Brasil em maior contato uns com os outros,
físico e socialmente, com maior mobilidade e, de certo modo, liberdade de
movimentos, num processo de interação que não conheceram antes. Este fato propiciou
condições sociais favoráveis para a sobrevivência de algumas religiões
africanas, com a formação de grupos de culto organizados.
Até o final do século passado, tais religiões estavam consolidadas, mas
continuavam a ser religiões étnicas dos grupos negros descendentes dos
escravos. No início deste século, no Rio de janeiro, o contato do candomblé com
o catolicismo, com as matrizes indígenas e com o espiritismo kardecista trazido
da França no final do século propiciou o surgimento de uma outra religião afro-brasileira:
a umbanda, que tem sido reiteradamente identificada como sendo a religião
brasileira por excelência, pois, nascida no Brasil, ela resulta do encontro de
tradições africanas, indígenas, espíritas e católicas. Embora tecnicamente,
mesmo os Candomblés, aqui no Brasil sejam radicalmente diferentes de suas
matrizes africanas, fazendo com que mesmo estes sejam cultos especialmente
brasileiros.
Desde o início as religiões afro-brasileiras formaram-se em sincretismo com o
catolicismo, e em grau menor com religiões indígenas. O culto católico aos
santos, numa dimensão popular politeísta, ajustou-se como uma luva ao culto dos
panteões africanos. A partir de 1930,
a umbanda espraiou-se por todas a
regiões do País, sem limites de classe, raça, cor, de modo que todo o País
passou a conhecer, pelo menos de nome, divindades como Iemanjá, Ogum, Oxalá
etc.
O candomblé, que até 20 ou 30 anos atrás era religião confinada sobretudo na
Bahia e Pernambuco e outros locais em que se formara, caracterizando-se ainda
uma religião exclusiva dos grupos negros descendentes de escravos, começou a
mudar nos anos 60 e a partir de então a se espalhar por todos os lugares, como
acontecera antes com a umbanda, oferecendo-se então como religião também
voltada para segmentos da população de origem não-africana. Assim o candomblé
deixou de ser uma religião exclusiva do segmento negro, passando a ser uma
religião para todos. Neste período a umbanda já começara a se propagar também
para fora do Brasil.
Durante os anos 1960, com a larga migração do Nordeste em busca das grandes
cidades industrializadas no Sudeste, o candomblé começou a penetrar o bem
estabelecido território da umbanda, e velhos umbandistas começaram e se iniciar
no candomblé, muitos deles abandonando os ritos da umbanda para se estabelecer
como pais e mães-de-santo das modalidades mais tradicionais de culto aos
orixás.
Nesse período da história brasileira, as velhas tradições até então preservadas
na Bahia e outros pontos do País encontraram excelentes condições econômicas
para se reproduzirem e se multiplicarem mais ao sul; o alto custo dos ritos
deixou de ser um constrangimento que as pudesse conter. E mais, nesse período,
importantes movimentos de classe média buscavam por aquilo que poderia ser
tomado como as raízes originais da cultura brasileira. Intelectuais, poetas,
estudantes, escritores e artistas participaram desta empreitada, que tantas
vezes foi bater à porta das velhas casas de candomblé da Bahia. Ir a Salvador
para se ter o destino lido nos búzios pelas mães-de-santo tornou-se um must
para muitos, uma necessidade que preenchia o vazio aberto por um estilo de vida
moderno e secularizado tão enfaticamente constituído com as mudanças sociais
que demarcavam o jeito de viver nas cidades industrializadas do Sudeste.
O candomblé encontrou condições sociais, econômicas e culturais muito
favoráveis para o seu renascimento num novo território, em que a presença de
instituições de origem negra até então pouco contavam. Nos novos terreiros de
orixás que foram se criando então, entretanto, podiam ser encontrados pobres de
todas as origens étnicas e raciais. Eles se interessaram pelo candomblé. E os
terreiros cresceram às centenas.
O termo candomblé designe vários ritos com diferentes ênfases culturais, aos
quais os seguidores dão o nome de "nações" (Lima, 1984). Basicamente,
as culturas africanas que foram as principais fontes culturais para as atuais
"nações" de candomblé vieram da área cultural banto (onde hoje estão
os países da Angola, Congo, Gabão, Zaire e Moçambique) e da região sudanesa do
Golfo da Guiné, que contribuiu com os iorubás e os ewê-fons, circunscritos
principalmente aos atuais território da Nigéria e Benin. Mas estas origens na
verdade se interpenetram tanto no Brasil como na origem africana.
A Nação Ketu
Na chamada "nação" Ketu, na Bahia, predominam os orixás e ritos de
iniciação de origem iorubá. Quando se fala em candomblé, geralmente a
referência é o candomblé ketu e seus antigos terreiros são os mais conhecidos:
a Casa Branca do Engenho Velho e duas casas derivadas da Casa Branca, o Axé Opô
Afonjá e o Gantois; além do candomblé do Alaketo. O candomblé ketu tem tido
grande influência sobre outras "nações", que têm incorporado muitas
de suas prática rituais. Sua língua ritual deriva do iorubá, mas o significado
das palavras e a sintaxe em grande parte se perderam através do tempo. Além do
ketu, as seguintes "nações" também são do tronco iorubá (ou nagô,
como os povos iorubanos são também denominados): efã e ijexá na Bahia, nagô ou
eba em Pernambuco, oió-ijexá ou batuque de nação no Rio Grande do Sul,
mina-nagô no Maranhão, e a quase extinta "nação" xambá de Alagoas e
Pernambuco.
Mais recentemente, quando o candomblé (de origem baiana, nação ketu) já se
encontrava espalhado por todos os grandes centros urbanos, tendo já, inclusive,
iniciado sua propagação por países do Cone Sul e também da Europa, iniciou-se
um movimento de recuperação de raízes africanas conhecido como
"africanização", que rejeita o sincretismo católico, procura
reaprender o iorubá como língua original e tenta reintroduzir ritos que se
perderam ao longo do tempo e redescobrir os mitos esquecidos dos orixás.
A Nação Angola
A "nação" angola, de origem banto, adotou o panteão dos orixás
iorubás (embora os chame pelos nomes de seus esquecidos inquices, divindades
bantos, assim como incorporou muitas das práticas iniciáticas da nação ketu.
Sua linguagem ritual, também intraduzível, originou-se predominantemente das
línguas quimbundo e quicongo. Nesta "nação", tem fundamental importância
o culto dos caboclos, que são espíritos de índios, considerados pelos antigos
africanos como sendo os verdadeiros ancestrais brasileiros, portanto os que são
dignos de culto no novo território a que foram confinados pela escravidão. O
candomblé de caboclo é uma modalidade da nação angola, centrado no culto
exclusivo dos antepassados indígenas. Foram provavelmente o candomblé angola e
o de caboclo, além do catimbó e das juremas, cultos de origem indígena que
deram origem à umbanda. Há outras nações menores de origem banto, como a congo
e a cambinda, hoje quase inteiramente absorvidas pela nação angola.
A Nação Jeje
A nação jeje-mahin, do estado da Bahia, e a jeje-mina, do Maranhão, derivaram
suas tradições e língua ritual do ewê-fon, ou jejes, como já eram chamados
pelos nagôs, e suas divindades centrais são os voduns. As tradições rituais
jejes foram muito importantes na formação dos candomblés com predominância
iorubá.
A palavra JEJE vem do yorubá adjeje que significa estrangeiro, forasteiro.
Portanto, não existe e nunca existiu nenhuma nação Jeje, em termos políticos. O
que é chamado de nação Jeje é o candomblé formado pelos povos fons vindo da
região de Dahomé e pelos povos mahins. Jeje era o nome dado de forma
perjurativa pelos yorubás para as pessoas que habitavam o leste, porque os
mahins eram uma tribo do lado leste e Saluvá ou Savalu eram povos do lado sul.
O termo Saluvá ou Savalu, na verdade, vem de "Savê" que era o lugar
onde se cultuava Nanã. Nanã, uma das origens das quais seria Bariba, uma antiga
dinastia originária de um filho de Oduduá, que é o fundador de Savê (tendo
neste caso a ver com os povos fons). O Abomei ficava no oeste, enquanto Axantis
era a tribo do norte. Todas essas tribos eram de povos Jeje.
A palavra DAHOMÉ, tem dois significados: Um está relacionado com um certo Rei
Ramilé que se transformava em serpente e morreu na terra de Dan. Daí ficou
"Dan Imé" ou "Dahomé", ou seja, aquele que morreu na Terra
da Serpente. Segundo as pesquisas, o trono desse rei era sustentado por
serpentes de cobre cujas cabeças formavam os pés que iam até a terra. Esse
seria um dos significados encontrados: Dan = “serpente sagrada” e Homé = “a
terra de Dan”, ou seja, Dahomé = “a terra da serpente sagrada”. Acredita-se
ainda que o culto à Dan é oriundo do antigo Egito. Ali começou o verdadeiro
culto à serpente, onde os Faraós usavam seus anéis e coroas com figuras de
cobra. Encontramos também Cleópatra com a figura da cobra confeccionada em
platina, prata, ouro e muitos outros adornos femininos. Então, posso dizer que
este culto veio descendo do Egito até Dahomé. Há, ainda a versão de que Dan
teria se originado de uma das 12 tribos de Israel. Consta ainda que o povo
Nkongolo, que teria originado os povos
Congos e Angolas, cultuava a serpente – de onde veio o nome do nkice Hongolo,
mais tarde conhecido como Angorô, relacionado com o Oxumaré dos Nagô. Teriam
estes povos uma origem comum?
Os povos Jejes se enumeravam em muitas tribos e idiomas, como: Axantis, Gans,
Agonis, Popós, Crus, etc. Portanto, teríamos dezenas de idiomas para uma tribo
só, ou seja, todas eram Jeje, o que foge evidentemente às leis da lingüística -
muitas tribos falando diversos idiomas, dialetos e cultuando os mesmos Voduns.
As diferenças vinham, por exemplo, dos Minas - Gans ou Agonis, Popós que
falavam a língua das Tobosses.
Os primeiros negros Jeje chegados ao Brasil entraram por São Luís do Maranhão e
de São Luís desceram para Salvador, Bahia e de lá para Cachoeira de São Félix.
Também ali, há uma grande concentração de povos Jeje. Além de São Luís
(Maranhão), Salvador e Cachoeira de São Félix (Bahia), o Amazonas e bem mais
tarde o Rio de Janeiro, foram lugares aonde encontram-se evidências desta
cultura.
Muitos Voduns Jeje são originários de Ajudá. Porém, o culto desses voduns só
cresceram no antigo Dahomé. Muitos desses Voduns não se fundiram com os orixás
nagos e desapareceram totalmente. O culto da serpente Dãng-bi é um exemplo,
pois ele nasceu em Ajudá, foi para o Dahomé, atravessou o Atlântico e foi até
as Antilhas.
Quanto a classificação dos Voduns Jeje, por exemplo, no Jeje Mahin tem-se a
classificação do povo da terra, ou os voduns Caviunos, que seriam os voduns
Azanssu, Nanã e Becém. Temos, também, o vodun chamado Ayzain que vem da nata da
terra. Este é um vodun que nasce em cima da terra. É o vodun protetor da Azan,
onde Azan quer dizer "esteira", em Jeje relaciona-se ao Kaviungo e
Xapanã. Achamos em outro dialeto Jeje, o dialeto Gans-Crus, também o termo
Zenin ou Azeni ou Zani e ainda o Zoklé. Ainda sobre os voduns da terra encontramos
Loko. Ele apesar de estar ligado também aos astros e a família de Heviosso,
também está na família Caviuno, porque Loko é árvore sagrada; é a gameleira
branca, que é uma árvore muito importante na nação Jeje. Seus filhos são
chamados de Lokoses. Ague, Azaká é também um vodun Caviuno. A família Heviosso
é encabeçada por Badë, Acorumbé, também filho de Sogbô, chamado de Runhó.
Mawu-Lissá seria o orixá Oxalá dos yorubás. Sogbô também tem particularidade
com o Orixá em Yorubá, Xangô, e ainda com o filho mais velho do Deus do trovão
que seria Averekete, que é filho de Ague e irmão de Anaite. Anaite seria uma
outra família que viria da família de Aziri, pois são as Aziris ou Tobosses que
viriam a ser as Yabás dos Yorubás, achamos assim Aziritobosse. Estou falando do
Jeje de um modo geral, não especificamente do Mahin, mas das famílias que
englobam o Mahin e também outras famílias Jeje.
Como relatei, Jeje era um apelido dado pelos yorubás. Na verdade, esta família,
deveria ser classificados de povo Ewe, que seria o mais certo. Ewe-Fon seria a
verdadeira denominação.
Continuando com algumas nomenclaturas da palavra Ewe-Fon, por exemplo, a casa
de candomblé da nação Jeje chama-se Kwe = "casa". A casa matricial em
Cachoeira de São Félix chama-se Kwe Ceja Undé. Toda casa Jeje tem que ser
situada afastada das ruas, dentro de florestas, onde exista espaço com árvores
sagradas e rios. Depende das matas, das cachoeiras e depende de animais, porque
o Jeje também tem a ver com os animais. Existem até cultos com os animais tais
como, o leopardo, crocodilo, pantera, gavião e elefante que são identificados
com os voduns. Então, este espaço sagrado, este grande sítio, esta grande
fazenda onde fica o Kwe chama-se Runpame, que quer dizer "fazenda" na
língua Ewe-Fon. Sendo assim, a casa chama-se Kwe e o local onde fica situado o
candomblé, Runpame. No Maranhão predomina o culto às divindades como Azoanador
e Tobosses e vários Voduns onde a "sacerdotisa" é chamada Noche e o
cargo masculino, Toivoduno.
Respondendo a inúmeros e-mails, questionamentos
e scraps que venho recebendo de nomes que foram representativos outros nem
tanto e que nem vale a pena falar, estão a migrar para o candomblé e outros
cultos de nação na vã pretensão de obter o dito "axé" e seus afins.
Lamentável, pois nos tempos auréos de Zelio Fernandino de Moraes, vô
Matta & Silva e a Umbanda Esotérica, eram fiéis lutadores, esclarecedores e
referências contra as famigeradas práticas fetichistas, anacrônicas e
decadentes de tais ritos. Faltou alicerce, suporte e caráter infelizmente. Haja
encarnações para tais reajustamentos à Lei.
Agradecendo sempre ao astral que nos
assiste a mais de 30 anos por evitar veementemente contatos ou introduções a
tais práticas primitivas à nossa casa bem como ao nosso bem viver. Respeitamos
o livre arbítrio de cada um, mas não compactuamos com tais práticas e queremos
distância bem destacável disso tudo. Caboclo Sr das 7 Espadas em seus iluminados
sempre dizia:
"Para cada pessoa ou agrupamento
haverá sempre um culto que mais lhe fale a alma"...
Que possam ser felizes caso o karma
pessoal os permita.
Salve Nosso Pai Oxossi que virá reger 2017 e iluminar, amparar, proteger, escudar e imunizar nossas vidas em
todos os sentidos...
Salve nossa Mãe Yemanjá lavando,
escoimando e libertando de todas as energias negativas e afins.
Salve nosso Pai Yorimá guarnecendo,
isolando e acobertando contra todas as manifestações, indícios e energias
manipuladas.
Salve toda a espiritualidade de nossa
raiz hoje e sempre.
Odoyá...Yemanjá...Ynayá...Haba...
Que 2017 seja tão iluminado, abençoado
e libertador como está sendo 2016.
Somos o que há para alegria de muitos
e inveja, desacerto, desespero e surto de poucos...bem poucos...