segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Estratégias e reflexões para combater a homofobia - até mesmo internalizada...




Por que será que nos indignamos com frases do tipo “Se meu filho for gay vai apanhar até virar macho!” mas não nos indignamos com outras do tipo “Poxa, o cara é gay, sofre tanto preconceito quanto qualquer outro e está lá sendo preconceituoso com afeminados!”?
A lógica que opera por trás destas duas frases é muito parecida: a de que a dor, o sofrimento, o suplício é capaz de transformar uma pessoa. E este raciocínio, embora não encontre nenhum respaldo nas ciências, parece amplamente difundido.
Assim como apanhar não fará com que alguém mude o seu desejo sexual, seu gênero ou qualquer outra coisa, tampouco sofrer preconceito fará com que alguém aprenda a ser menos preconceituoso. 
Uma pessoa só aprenderá a respeitar a diversidade, e quem sabe até a admirá-la, se entrar em contato com pessoas e meios culturais que tenham estes valores libertários. Trará consigo toda sua bagagem anterior (que no caso do Brasil vem de muitas escolas, da grande mídia, de algumas determinadas instituições religiosas fundamentalistas, etc, que são grandes poços de homofobia, aversão ao diferente e preconceito) e será a custa de muita reflexão, conversa com amigos, leituras e (con)vivências que algo poderá se transformar, que uma pessoa antes preconceituosa, mesmo que  contra grupos que ela mesma pertença, poderá vir a ser mais humana, mais tolerante e aberta à diversidade.
E nisso tudo foi necessário tempo para aprender, mudar e transformar a própria mentalidade e comportamentos.
Quem não tem aquela amiga ou aquele amigo que era homofóbica(o) na escola e depois que começou a andar com outras pessoas ou que entrou na faculdade mudou seu pensamento? E quem já não ouviu histórias de famílias que eram super conservadoras, mas que depois de um outing de um membro querido, com a convivência, o tempo e a informação não foram se tornando mais abertas, receptivas e acolhedoras?
Muitas pessoas que hoje são vozes potentes de um discurso libertário, que buscam a igualdade e o fim da discriminação não nasceram em berço esplêndido, ao contrário, tiveram que pensar, refletir e mudar muito ao longo do tempo para chegarem ao atual nível de elaboração e crítica que alcançaram. Por que deveríamos nos impacientar e exigir toda essa reflexão crítica de quem está começando? Ou seja, nada de fazer a Susana Vieira: desconstruir preconceitos, desmistificar temas, mostrar outras possibilidades de se estar no mundo pode ser mais difícil, mas os frutos podem ser bem mais saborosos!




Nesta linha de pensamento, diametralmente oposto ao que grupos mais conservadores pregam, como exercer a sexualidade-diversa apenas em locais reservados e não manifestar-se publicamente ou politicamente a favor da diversidade, é possível afirmar que outras ações como uma saída do armário com a cabeça erguida, um andar de mãos dadas na rua, conversas francas com quem estiver minimamente aberto a receber novas informações e esclarecimentos sobre a diversidade sexual e o debate no campo social e político por direitos iguais são todas estratégias que se fazem sim necessárias para uma efetiva mudança social e individual. 
É claro que isso não reduz a questão da violência contra a diversidade sexual (ou contra outros grupos sociais), tampouco esgota as possibilidades de intervenção contra o preconceito e a discriminação, mas é um ponto a ser levado em consideração em tempos de internet e redes sociais, onde as estratégias de atuação podem facilmente descambar para um “unfollow” ou um “unfriend” que em nada mudam a realidade em que vivemos, ou a construção e manutenção de pequenos guetos de sociabilidade.
Também não estou aqui jogando a culpa ou a responsabilidade pelo preconceito e discriminação nos ombros dos próprios LGBTTs, apenas estou apontando estratégias que pode ter efeitos benéficos. É claro que ações coercitivas contra o preconceito e discriminação são também necessárias em muitos casos. 





O ser humano é capaz sim de mudar, de se transformar e de desenvolver ideias e uma sociabilidade mais solidária, mas em contraste com a velocidade do mundo das comunicações e invenções tecnológicas, as mudanças individuais e coletivas exigem um tempo que é da ordem do humano e que não ocorrem na base da ameaça ou violência, tampouco com pressa.



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