Está
circulando na internet e
que seria uma psicografia de um médium ditada pela cantora Cássia Eller,
morta no dia 29 de dezembro de 2001, aos 39 anos, após sofrer quatro paradas
cardíacas.
Se eu disser para vocês que o inferno existe, acreditem, pois eu
estava mergulhada nele, de corpo e alma, num espaço sombrio e frio, bem interno
do ser, dos pés à cabeça, sem tempo, sem luz, nem descanso e afogava-me, a cada
segundo, num oceano de matéria viscosa que roubava até minha ilusória alegria…
Naquele lugar não havia luz, somente nuvens cinza e chuvas com raios e trovões,
gritos estridentes e desesperados, gemidos surdos, pedidos de socorro,
lágrimas, desalento, tristeza e revolta…
Preciso descrever mais as cenas dantescas de animais que nos
mastigavam e, em seguida, nos devoravam sem consumir nossos corpos; se é que
posso dizer que aquilo, que sobrou de mim, era um corpo humano. Queria fugir
para bem longe dali, mas tudo em vão, quanto mais me debatia no fluido
grudento, mais me afundava e, quando alcançava, de novo, a superfície
apavorante, mãos e garras afiadas faziam-me submergir naquele líquido pastoso e
mal cheiroso.
Dragões lançavam chamas de suas bocas sujas e nos queimavam, machucando
e estilhaçando a pouca consciência que me restava da lembrança de minha estada
no corpo físico, neste planeta azul. Guardiões das trevas olhavam atentos seus
presos e vigiavam todos os movimentos realizados naquele imenso espaço de
sofrimentos, dores, lamentos, depressões, angústias e arrependimentos tardios…
O ar era ácido e provocava convulsões diversas.
Perguntava-me porque ali estava se nada fizera por merecer tão
infeliz destino, depois de ser expulsa do corpo de carne através do uso maciço
de drogas. A dúvida assaltava-me os raros momentos de raciocínio menos
desequilibrado e as crises de abstinência trancavam todas as portas que dariam
acesso à saída daquele campo de penitência de espíritos rebeldes e viciados com
eu.
Os filmes de horror que assisti, quando encarnada, estariam
ainda muito distantes dos padecimentos, pânicos, pavores e temores que ficariam
para sempre registrados na minha memória mental, os piores dias que vivi até
hoje, como joguete e marionete de forças que me escravizavam o ser, debilitado,
fraco, desprovido de energias, suja, carente e chorosa.
Não me lembrava do que acontecera comigo… Quando o medo é maior
que as necessidades básicas, a mente fica encarcerada num labirinto hipnótico e
‘torporizante’ de emoções truncadas e desconectadas da realidade… Assemelha-se
a um pesadelo sem fim, sempre com final trágico e apavorante. Quando conseguia
conciliar um pequeno tempo de sono; era imediatamente desperta por seres que me
insultavam e xingavam, acusavam-me de suicida maldita e jogavam-me lama
misturada com pedras… Insetos e anfíbios ajudavam a traçar o perfil horrendo
dos anos que passei no umbral. Preciso escrever estas palavras para nunca mais
me esquecer: ‘Com o fenômeno da morte, nós não vamos para o umbral, nós já
estamos no umbral quando tentamos forjar as leis maiores da criação com nossas
más intenções e tendências viciantes’.
Tudo fica registrado num diário mental que traça nosso destino
futuro, no bem ou no mal. O umbral não fora criado por Deus; ele é de autoria
dos espíritos que necessitam de um autêntico e genuíno estágio educativo em
zonas inferiores, onde poderão se depurar de suas construções aleijadas no
campo dos sentimentos e dos pensamentos disformes, mal estruturados e mal
conduzidos por nossa irresponsabilidade, de mãos dadas com a imensa ignorância
que nos faz seres infelizes e distantes da tão sonhada paz de consciência.
Após alguns anos umbralinos, despertei numa tarde serena, num
campo verdejante e calmo. Não acreditava no que via, pois tudo, agora, parecia
um sonho… Percebi, ao longe, o canto de uma ave que insistia em acordar-me
daquele pesadelo no qual já me acostumava a viver; a morrer todos os dias… Seu
canto era uma música que apaziguava meu coração e aguçava meus pensamentos na
lembrança de como fui parar ali naquele campo gramado e repleto de árvores.
Consegui sentar-me na relva e ao olhar todo aquele espaço natural, deparei-me
com milhares de outros seres como eu, nas mesmas condições de debilidade moral,
usufruindo, agora, de um bem que não merecia, mas vivia! Todos nós dormíamos e
fomos despertos com música e preces em favor de todos os presentes…
A maioria era de jovens e adultos, poucos idosos e centenas de
enfermeiros que olhavam atentos para nossos movimentos no gramado. Com seus
olhos serenos, projetavam em nós a mansidão e a paz tão esperadas por nossos
corações enfermos, débeis e carentes de atenção, de afeto e carinho.
Alguém me tocava, de leve, os ombros e chamava-me pelo nome,
como se me conhecesse há muito tempo. Eu identifiquei aquela voz e ‘temia’
olhar para trás e confirmar minha impressão auditiva, era Cazuza todo de
branco, como lindo enfermeiro, de cabelos cortados bem curtos e estendia suas
mãos para que eu levantasse, caminhasse e conversasse um pouco em sua
companhia. Não consegui me levantar, porque uma enxurrada de lágrimas vertia
dos meus olhos, como nascente de rio descendo a montanha das dores que trazia
no peito. Meu ídolo ali estava resgatando e cuidando de sua fã, debilitada e
muito carente. Ele cantou pequena canção e tive a capacidade de avaliar o que
Deus havia reservado para aqueles que feriam suas leis e buscavam consolo entre
erros escabrosos e desconcertantes.
A misericórdia divina sempre conspira a nosso favor, nós
desdenhamos do amor divino com nossas desatenções e desequilíbrios das emoções
comprometedoras, que arranham e esmagam as mais puras sementes depositadas no
ser imortal. Aprendi palavras boas! Somente agora enxergo que sou espírito e
que a vida continua e precisa seguir o curso natural das existências, como na
roda-gigante: hora estamos aqui no alto; hora estamos aí embaixo encarnados.
Daqui de cima, parece ser mais fácil compreender porque temos de respeitar as
leis e descer num corpo físico para, igualmente, quando aí estivermos,
conquistarmos, pelo trabalho no bem, a lucidez que explica porque há a
reencarnação, filha da justiça divina.
Após um tempo no campo reconfortante, fui reconduzida para um
hospital onde me recupero até hoje dos traumas e cicatrizes que criei no corpo
do perispírito. As lesões que provoquei foram muito graves, passei por várias
cirurgias espirituais e soube que minha próxima encarnação será dolorosa e
expiarei asma, deficiência mental e tuberculose. Mesmo assim, estou reunindo
forças para estudar, pois sempre guardamos, no inconsciente, todos os
aprendizados conquistados. Reencarnarei numa comunidade carente no interior do
Brasil e passarei por muitos reveses, para despertar em mim o valor da vida do
espírito na pobreza e na doença crônica. Peço orações e a caridade dos corações
que já sabem o que fazem e para onde desejam chegar. Invistam suas forças e
energias espirituais em trabalhos de auxílio ao próximo e serão, naturalmente,
felizes. Obrigada por me aceitarem como necessitada que sou!
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